G20 Social vai entregar propostas aos líderes; veja o que diz cada uma delas

Iniciativa inédita da presidência brasileira, o G20 Social tem o objetivo de ampliar a participação da sociedade nas discussões do grupo das maiores economias do mundo. Um dos passos nesse sentido será a contribuição de movimentos sociais, cidadãos em geral e dos grupos de engajamento (GEs) do G20 para um documento com recomendações aos líderes. A carta será entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo fim de semana.

Em paralelo, os 13 grupos de engajamento, que reúnem desde empresários até cientistas e jovens de países do G20, também elaboraram seus documentos com recomendações, os chamados communiqués, e puderam compartilhá-los com representantes das trilhas de sherpas e de finanças do G20, que cuidam dos assuntos políticos, sociais, ambientais e financeiros.

Estes grupos também participaram de grupos de trabalho (GTs) das trilhas política e financeira, aumentando as chances reais de contribuir e influenciar as decisões. Até ano passado, os GEs debatiam os temas da agenda do G20 mas não tinham acesso direto às lideranças.

Os communiqués também serão entregues aos líderes do G20, na Cúpula de Chefes de Estado do G20, no Rio, na semana que vem. Eles trarão recomendações para temas prioritários da presidência brasileira do G20: combate à fome, à pobreza e à desigualdade; sustentabilidade, mudança climática e transição justa; e reforma da governança global. Conheça, a seguir, as principais propostas de cada um:

Civil 20 (C20), o grupo da sociedade civil

Defensor dos direitos humanos, do meio ambiente e do desenvolvimento socioeconômico, o C20 – grupo das sociedades civis do G20 – foi representado, este ano, por mais de 1.700 organizações, movimentos sociais e redes de 91 países.

Ele é presidido pelo diretor executivo da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Henrique Frota, e tem como articuladora política (sherpa) a cofundadora da ONG Gestos, Alessandra Nilo.

Segundo Frota, as propostas do C20 têm um enfoque interseccional “na busca por um real compromisso de não deixar ninguém para trás”.

Algumas dessas recomendações são: promover políticas públicas de acesso a trabalho digno, água, terra, habitação, segurança alimentar e a sistemas universais de educação, saúde (inclusive mental) e proteção social; implementar urgentemente medidas de adaptação e mitigação para cumprir o Acordo de Paris; e adotar políticas fiscais progressivas e justas, com taxação dos super-ricos.

Entre outras medidas, o C20 defende também a garantia de direitos sexuais e reprodutivos a todos, bem como o acesso à educação sexual e a cuidados e tratamentos gratuitos.

Frota diz que a expectativa é grande em relação ao lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza durante a Cúpula de Líderes. Por outro lado, a questão climática preocupa.

– Em relação às mudanças climáticas, o sentimento é de frustração diante da incapacidade dos países em chegarem a compromissos mais audaciosos e concretos que estejam à altura da crise.

Frota destaca ainda que, pela primeira vez, além ter sido possível entregar o documento final do grupo às trilhas política e financeira do G20, o C20 conseguiu atuar junto a vários grupos de trabalho (GTs) do G20.

– Foram momentos importantes, que nunca haviam ocorrido em edições anteriores. Essa possibilidade de participação mais intensa pode ser entendida como uma melhoria nos processos do G20 – avalia.

Think tanks 20 (T20), o grupo de institutos de pesquisa

Grupo representado por think tanks de países-membros do G20, o T20 sugeriu políticas públicas em áreas como transição energética, transformação digital e combate à fome e à pobreza. Suas recomendações são resultado do trabalho de seis forças-tarefas temáticas, que analisaram e aprovaram as propostas de 121 think tanks.

Tudo isso sob a coordenação de um comitê organizador composto por três instituições: Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

– Foi um trabalho complexo, que exigiu muita articulação, coordenação e espírito de colaboração entre os participantes – avalia Luciana Muniz, diretora do T20 no Cebri.

Do conjunto de recomendações, o comitê organizador destacou dez prioritárias, e as três primeiras desta lista são: garantir apoio à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada ao final da presidência brasileira do G20; apoiar a criação de um imposto mínimo global sobre os indivíduos de alta renda e corporações altamente poluentes, além de combater a evasão fiscal; e otimizar o acesso de países de baixa renda aos Fundos Climáticos Multilaterais.

– Um dos principais pontos de consenso foi a necessidade de agir sobre a mudança climática. Alavancar recursos para o financiamento climático, assim como melhorar o ambiente de negócios, estruturar boas práticas de governança, ter contextos regulatórios claros e reduzir riscos para aumentar o volume de investimentos foram algumas recomendações do T20 – explica Luciana.

Youth 20 (Y20), o grupo da juventude

Um dos mais antigos grupos do G20, o Youth20 (Y20), das juventudes dos países-membros, sugeriu propostas como a criação de um fundo para a juventude; a taxação de grandes fortunas para combater desigualdades e a evasão de divisas; a ética e a regulamentação da Inteligência Artificial; e o cessar-fogo imediato em Gaza.

O grupo contou com 29 delegações, cada uma com cinco lideranças jovens, que, além dos temas comuns a todos os grupos, propostos pela presidência brasileira, debateram também sobre: inclusão e diversidade; e inovação e futuro do trabalho.

– Desde sua criação, em 2010, o Y20 tem apresentado propostas, reivindicações e reflexões avançadas. Apesar das diferentes culturas, percebe-se, entre os jovens, maior disposição, com maior senso de urgência, ousadia e predisposição a mudanças – afirma o presidente do Y20, Marcus Barão, referência internacional em políticas públicas de juventude.

Além de promover, pela primeira vez, um processo seletivo público, por meio de edital público, para selecionar cinco jovens isentos e interessados em contribuir para os debates, o Y20 realizou outro feito também inédito: realizou mais de 30 diálogos regionais – sendo dois deles no exterior – para incluir em seus debates jovens indígenas, imigrantes, do campo, das cidades, das favelas, das universidades e das escolas.

O impacto da iniciativa foi tão grande que, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), os diálogos regionais serão compilados e publicados sob a forma de livro.

Women 20 (W20), o grupo das mulheres

Com o intuito de influenciar as lideranças do G20, o grupo das mulheres organizou recomendações em cinco áreas: mulheres empreendedoras e o acesso a financiamentos, capital e mercados; economia do cuidado e combate às disparidades de gênero nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

Também elaboraram propostas para gestão de crises climáticas sensíveis ao gênero, pois 80% das vítimas de desastres climáticos são mulheres e meninas, e para o fim da violência contra elas, já que uma em cada três sofre abuso físico ou sexual, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo Ana Fontes, presidente do W20, os temas violência contra as mulheres e economia do cuidado foram os que tiveram maior consenso e importância. Sobre violência, ela afirma:

– Este é um tema complexo, com muitas nuances, pois cada país enfrenta desafios específicos. Após extensos debates, conseguimos chegar a um consenso sobre a necessidade de todos os países medirem os custos associados à violência contra as mulheres. Realizar uma avaliação de quanto isso representa para a sociedade é essencial para fundamentar políticas e ações eficazes.

Já a valorização da economia do cuidado, que trata sobre o cuidado com familiares, foi o segundo ponto de consenso.

– Esse setor, majoritariamente ocupado por mulheres, precisa ser reconhecido como essencial. Estimativas indicam que, se esse trabalho fosse remunerado, poderia adicionar 9% ao PIB dos países do G20, o que representaria aproximadamente 11 trilhões de dólares – esclarece.

E completa:

– Nossas recomendações incluem reconhecer formalmente a economia do cuidado como trabalho essencial, valorizar financeiramente esse trabalho e promover a educação para que o trabalho do cuidado seja compartilhado, incentivando a participação de toda a sociedade.

O W20 promoveu uma série de diálogos regionais, totalizando oito encontros em diferentes regiões do Brasil. Para Ana Fontes, essa iniciativa foi fundamental para aproximar a sociedade civil do debate do W20 e representa uma inovação importante.

Outra ação de destaque foi a criação da plataforma iSaw, que reúne todo o legado de documentações, debates e contribuições das delegações.

– Essa plataforma será um ponto de referência para as próximas presidências, começando pela África do Sul. Esse é um legado valioso para assegurar a continuidade do trabalho.

Oceans 20 (O20), o grupo dos oceanos

Coordenado por entidades internacionais e nacionais relacionadas a biodiversidade e pesquisa, o O20 estreou este ano no G20, com o propósito de garantir um oceano saudável, resiliente e que contribua com a segurança alimentar, energética e o comércio mundial. Entre suas recomendações macro, estão: garantir um oceano limpo, saudável e produtivo; expandir sistemas sustentáveis de alimentos aquáticos; aumentar a geração de energia eólica offshore; aprimorar a governança marítima para a navegação sustentável; e incentivar o financiamento oceânico.

– Destacamos a ratificação do acordo sobre conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha em áreas além da jurisdição nacional 30×30 (30% de áreas marinhas protegidas até 2030), a inclusão dos oceanos nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e a realização do planejamento espacial marinho com base ecossistêmica que incorpore o aspecto social em sua implementação – diz a coordenadora do O20, Simone Pennafirme.

O comunicado final do O20 será apresentado ao público na Cúpula do O20, que será realizada junto à Cúpula Social, em 16 de novembro, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Sua elaboração contou com a cooperação internacional pública, privada, acadêmica e cidadã, reunindo mais de 6 mil pessoas de 34 nacionalidades.

– Fizemos um grande chamamento público para diálogos globais sobre o oceano. Esse processo nos permitiu inovar como uma plataforma multistakeholder na qual o diálogo entre os setores público, privado, sociedade civil e academia é priorizado em prol de um oceano limpo, saudável e resiliente e para uma transição rumo a uma economia oceânica justa, equitativa e sustentável – explica Simone.

Segundo a coordenadora, algumas recomendações do grupo já foram incorporadas às declarações finais dos ministros de meio ambiente, resultado do Grupo de Trabalho (GT) de Sustentabilidade Ambiental e Climática.

Labour 20 (L20), o grupo do trabalho

Grupo que defende os interesses dos trabalhadores, o L20 é formado por representantes dos sindicatos dos países-membros do G20 e das Federações Sindicais Internacionais. Este ano, o L20 foi liderado pelo secretário de Relações Internacionais da Central Única de Trabalhadores (CUT) e vice-presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), Antônio Lisboa.

Entre as diversas propostas do L20, Lisboa destacou, em primeiro lugar, a geração de empregos.

– Para absorver as novas gerações de trabalhadores, reivindicamos 575 milhões de novos empregos nos países do G20 até 2030, e isso obviamente impactaria positivamente outros países também, por meio das cadeias de produção.

A segunda prioridade, segundo ele, é a formalização de um bilhão de empregos informais até 2030.

– Neste ponto, a gente leva em conta o trabalho informal tradicional e os trabalhadores de plataformas digitais – explica.

Na sequência, Lisboa destaca o direito à negociação coletiva e à liberdade sindical.

– Por exemplo, uma das questões muito importantes para nós é a igualdade salarial entre homens e mulheres. Se tivermos plena liberdade sindical e negociação coletiva, fica mais fácil alcançar essa igualdade, porque a negociação coletiva dá respostas mais rápidas do que as leis.

Sobre transição justa, o líder do L20 enfatiza a necessidade de se considerar o aspecto humano na mudança do modelo de produção.

– Essa transição tem que ser feita de forma que as pessoas se beneficiem dela. Por exemplo, o que se vê, no Brasil e em vários países do mundo, são profissionais saindo da cadeia de produção de petróleo e indo para a produção de energia eólica. Só que, nesta transição, eles estão perdendo direitos trabalhistas, perdendo o direito à carteira assinada, ao 13º salário e a férias remuneradas. Nós defendemos a transição justa dos modelos não só de transição energética, mas também digital, com ênfase na garantia de direitos trabalhistas, na seguridade social – frisa Lisboa.

O líder do L20 destacou ainda, entre as propostas do grupo, a necessidade de investir em educação profissional que prepare jovens para o mercado de trabalho e o apoio à taxação dos bilionários em 2%.

Urban20 (U20) o grupo de cidades do G20

Grupo das cidades do G20, o Urban 20 busca soluções para um futuro urbano sustentável. O grupo é composto atualmente por 38 cidades participantes, dez observadoras e mais de 50 instituições parceiras. Este ano, o U20 foi copresidido pelos prefeitos de Rio de Janeiro e São Paulo, Eduardo Paes e Ricardo Nunes, respectivamente.

– Copresidir o U20 nos coloca em uma posição estratégica para liderar uma agenda de soluções concretas para os desafios das grandes cidades. Focamos em trazer para o encontro ações centradas na sustentabilidade, no enfrentamento climático e na ampliação do acesso das cidades a financiamento. Só assim elas podem tirar projetos essenciais do papel, transformando compromissos globais em prioridades locais – afirma o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

O assessor internacional de Assuntos Multilaterais da Secretaria Municipal de Relações Internacionais de São Paulo e sous-sherpa do U20, Lucas Roberto Paredes Santos, também destacou a questão do financiamento como prioritária:

– O financiamento está interligado a todas as outras demandas e prioridades, como transição energética, combate à fome e às desigualdades, e o desenvolvimento de cidades mais resilientes a chuvas e enchentes, entre outras. O U20 defende muito um mecanismo que libere recursos diretamente para os governos locais. Há inúmeros fundos para financiamento climático, mas ainda existem grandes barreiras ao acesso direto das cidades a esses fundos – frisa Santos.

Além disso, o U20 estabeleceu como prioridade o combate à fome e à desigualdade, independentemente de se tratar de cidade ou país desenvolvido, ou em desenvolvimento e recomendou ao G20 a inserção das cidades – como instância de governo mais próxima das comunidades – em processos internacionais de tomada de decisão.

– As principais necessidades e urgências acontecem nas cidades. Elas ficam sabendo primeiro. Então, todas essas iniciativas multilaterais precisam dar voz e dar espaço para as cidades participarem dos processos de tomada de decisão, dos levantamentos, dos estudos e do desenvolvimento de soluções – defende Santos.

O communiqué do Urban20 está em fase de aprovação pelos seus integrantes e será divulgado durante a 2ª Cúpula de Prefeitos do U20, de 14 a 17 de novembro, no Armazém da Utopia, no Complexo Mauá, região portuária do Rio de Janeiro. São esperados no evento mais de 50 prefeitos e delegações de mais de 100 cidades. A 1ª Cúpula de Prefeitos ocorreu em São Paulo, em junho, e serviu de base para a construção do comunicado.

Business 20 (B20), o grupo de negócios

Com 1.200 representantes de 42 países e 21 setores econômicos, o B20 dividiu seus participantes em oito grupos temáticos liderados por líderes globais nos negócios. Os grupos debateram comércio e investimento; emprego e educação; finanças e infraestrutura; integridade e compliance; transição energética e clima; transformação digital; sistemas alimentares sustentáveis e agricultura; e mulheres, diversidade e inclusão em negócios. Cada um formulou três recomendações, com seus próprios indicadores de desempenho, totalizando 24.

– Trabalhamos com assuntos sinérgicos, uns falando com os outros, para que houvesse congruência, porque quando você fala de digitalização, inteligência artificial, você também está falando de descarbonização, já que os maiores usuários de energia tendem a ser estes processos – diz Dan Ioschpe, presidente do B20.

Segundo o B20, para se ter, por exemplo, comércio e investimentos sustentáveis e resilientes é preciso investir em medidas prioritárias como promover metodologias internacionalmente aceitas para cálculo e prestação de contas sobre a pegada de carbono e revisar políticas comerciais unilaterais restritivas do G20. A motivação para agir é o fato de que US$ 2,3 trilhões – o equivalente a 11,8% das importações do G20 – estão sujeitos a medidas restritivas.

Quanto às finanças e infraestrutura, o B20 recomenda acelerar a implantação de capital privado para facilitar a transição para uma economia sustentável de baixo carbono.

– Para que a gente consiga dar conta dessa transição verde e atingir metas climáticas, é preciso investir de US$ 5 trilhões a US$ 8,5 trilhões por ano até 2030. É óbvio que se não tivermos a junção de capital público e privado, isso será impossível. E para isso, é preciso fazer alguns ajustes na regulação – frisa a gerente de Comércio e Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e sherpa do B20, Constanza Negri.

Segundo o B20, as alterações climáticas poderão causar 14,5 milhões de mortes adicionais e perdas econômicas de US$ 12,5 trilhões até 2050.

Quanto à transformação digital, o grupo apoia a conectividade universal de indivíduos e empresas, além de defender uma abordagem responsável e pró-inovação para novas tecnologias, como a inteligência artificial.

Já no que se refere ao capital humano, o B20 sugere, por exemplo, preparar uma força de trabalho resiliente e produtiva, com melhoria da educação básica e requalificação em proficiência digital e sustentabilidade. Este ponto, inclusive, integra uma declaração conjunta feita por B20, representando o empresariado, e L20, representando os trabalhadores.

Para impulsionar as mudanças, promover a colaboração entre os setores público e privado e garantir a continuidade do impacto, o grupo criou uma estratégia de legado robusta, com três pilares: do B20 para o B20 (África do Sul); do B20 para a sociedade; e do B20 para o Brasil.

Science20 (S20), o grupo de ciências

Grupo da área de ciência e tecnologia, formado pelas academias nacionais de ciências dos países-membros do G20, o S20 é liderado pela presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, que conduziu os debates acerca de cinco eixos temáticos: inteligência artificial (IA), bioeconomia, processo de transição energética, desafios da saúde e justiça social.

No documento final do S20, destacam-se, no campo da inteligência artificial, medidas como: formulação de políticas que garantam a segurança no emprego e os direitos dos trabalhadores; criação em conjunto e compartilhamento de dados científicos valiosos, respeitando a governança de dados; e estabelecimento de estruturas governamentais para supervisionar tecnologias de IA.

– É fundamental que os países tenham um olhar social para a inteligência artificial. Senão, ao invés de diminuir, as disparidades vão aumentar muito – alerta Helena.

Entre os desafios na área de saúde, destacam-se o acesso global a vacinas, medicamentos e ferramentas de diagnóstico para todos e também a promoção da produção local e regional através do desenvolvimento de capacidades em pesquisa, inovação, compartilhamento de conhecimentos e transferência de tecnologia.

No campo da justiça social, a comunidade científica apoia o acesso universal à internet e à alfabetização digital, além do combate à desinformação relacionada à ciência nas mídias digitais.

Assim como os demais grupos, o S20 aprovou um comunicado final A Arábia Saudita foi o único país que não ratificou o documento, devido a um item sobre transição energética.

StartUp20, o grupo das startups

Fundado em 2023, sob a presidência da Índia, o StartUp20 visa fomentar a inovação e o crescimento econômico sustentável de startups e pequenas e médias empresas (PMEs) de tecnologia.

Nestee ano, sob a liderança da presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Ingrid Barth, o grupo se organizou em três forças-tarefas – Investimentos; Regulação e Políticas Públicas; e práticas ASG – e apresentou 13 recomendações.

Entre propostas estão harmonizar as regulamentações e simplificar os processos de registro de startups e de proteção da propriedade intelectual nos países do G20; promover diretrizes éticas e garantir a inovação responsável nos sistemas de Inteligência Artificial (IA) e Blockchain; e padronizar os contratos de investimento, além de estabelecer um arcabouço jurídico unificado para o papel do investidor, garantindo maior segurança jurídica.

Sobre inclusão, destaca-se a proposta de desenvolver programas educacionais e de capacitação abrangentes para empoderar indivíduos e organizações em áreas-chave como inteligência artificial, inovação tecnológica e finanças digitais.

No que tange o combate à fome, o grupo sugere que startups sejam apoiadas na liderança de iniciativas de empreendedorismo social que promovam a inclusão financeira, o empoderamento, a empregabilidade e que desenvolvam tecnologias agrícolas sustentáveis para abordar a segurança alimentar.

Quanto às questões climáticas, o grupo recomenda incentivar startups a liderar iniciativas em energias renováveis e soluções baseadas na natureza (NbS) que contribuam para a resiliência climática, a descarbonização, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento urbano sustentável.

Parliament 20 (P20), o grupo de parlamentos

Grupo dos presidentes dos parlamentos do G20, o P20 visa aproximar congressistas para fortalecer a cooperação global, garantindo a efetividade de acordos internacionais firmados no âmbito do G20.

Neste ano, o P20 se destacou por incorporar em seus debates uma forte dimensão de inclusão social e de igualdade de gênero. Em julho, foi realizada, de forma inédita, a 1ª Reunião de Mulheres Parlamentares do P20 em Maceió, que resultou na “Carta de Alagoas”, com oito recomendações sobre justiça climática, aumento da representação feminina e combate às desigualdades de gênero e raça.

Uma dessas recomendações é que a Reunião de Mulheres Parlamentares passe a fazer parte da agenda do P20 a partir de 2025.

Os debates se concentraram na perspectiva parlamentar dos temas prioritários: combate à fome, pobreza e desigualdade; desenvolvimento socioambiental e transição ecológica justa e inclusiva; e governança global adaptada aos desafios do século 21.

Supreme Audit Institutions 20 (SAI20), o grupo das instituições superiores de controle

Criado para garantir a unidade e a integridade das Instituições Superiores de Controle (ISCs) no âmbito das plataformas e iniciativas da Organização Internacional de Instituições Superiores de Controle (Intosai), o SAI20 visa fortalecer a cooperação entre estas instituições e promover a transparência e a eficácia na governança global. Este ano, o grupo foi liderado pelo presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Bruno Dantas, que assumiu também a presidência da Intosai.

– Propomos sistemas comuns para medir a pobreza e monitorar o financiamento climático. Essas são ações fundamentais para garantir que os recursos sejam alocados de forma justa e eficaz, especialmente para enfrentar as mudanças climáticas e suas consequências para os mais vulneráveis – explica Dantas.

Dentre as iniciativas do SAI20, o grande destaque é a ferramenta ClimateScanner, desenvolvida pela Intosai ao longo de 2023 e apoiada por diversas organizações internacionais e também pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os resultados da iniciativa serão apresentados neste mês, durante a COP29, no Azerbaijão.

Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), auditores em mais 140 Instituições Superiores de Controle já foram treinados no uso da ferramenta.

– O ClimateScanner oferece uma visão global sobre o financiamento climático, ajudando os países do G20 a monitorar de forma eficaz o uso dos fundos para combate às mudanças climáticas. Como presidente do SAI20, acredito que iniciativas como esta fortalecem o nosso papel em promover políticas públicas que realmente façam a diferença para o planeta e para as futuras gerações – frisa Dantas.

Justice 20 (J20), o grupo das cortes supremas e constitucionais

Criado sob a presidência brasileira do G20, o J20 reúne presidentes das cortes supremas e constitucionais do G20, com o objetivo de promover trocas de ideias e iniciativas sobre temas jurídicos relevantes. O J20 é liderado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ministro Luís Roberto Barroso.

Mediados pelo Ministro Barroso, os debates do grupo ocorreram no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), em maio, e basearam-se em três temas centrais: inclusão social e promoção da cidadania; o uso de tecnologia pelo poder judiciário; e mudança climática.

Segundo o ministro, acerca de inclusão social e promoção da cidadania, a constatação é de que os processos autoritários e extremistas se fortalecem pelos desvãos da democracia, pelas promessas não cumpridas de prosperidade e igualdade para todos.

– O enfrentamento à pobreza e à desigualdade continua a ser o grande desafio dos regimes democráticos, inclusive em países desenvolvidos – afirma.

Sobre o uso de tecnologia pelo poder judiciário, Barroso esclarece que as novas tecnologias, que incluem a Internet e a Inteligência Artificial, podem prestar e vêm prestando valiosa contribuição aos países em geral, inclusive no âmbito da prestação de Justiça. Mas faz um alerta:

– Impõe-se, todavia, regulação proporcional, que preserve a liberdade de expressão, valor essencial para as democracias e, quanto à Inteligência Artificial, será sempre imprescindível a supervisão humana.

Já sobre mudança climática, o J20 considera o cenário preocupante.

– O ano de 2023 foi o mais quente da história e 2024 caminha para superá-lo. Os países não estão cumprindo satisfatoriamente as obrigações de redução de emissões assumidas com o Acordo de Paris e, em alguns casos, houve, inclusive, expressivo aumento das emissões. A questão climática deixou de ser apenas uma preocupação com as novas gerações, para envolver uma questão de preservação dos direitos fundamentais à vida, à integridade física, à liberdade de ir e vir e à propriedade das gerações atuais. Nessa matéria, estamos atrasados e com pressa – ressalta o ministro Barroso.

Morre Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central, aos 80 anos

O Jockey Club de São Paulo informou, na tarde desta sexta-feira (8/11), o falecimento do economista Ibrahim Eris, aos 80 anos. Nascido na Turquia, ele foi presidente do Banco Central do Brasil entre 1990 e 1991, durante o governo Collor. Não há informações sobre a causa da morte.

O Jockey Club, do qual o economista também foi ex-diretor, proprietário e associado, divulgou a cerimônia de despedida, que ocorre neste sábado (9/11), das 10h30 às 13h30, no cemitério do Morumby, em São Paulo.

Ibrahim Eris nasceu na Turquia em 1944, onde se graduou nos cursos de economia e estatística. Nos Estados Unidos, concluiu doutorado na mesma área na Vanderbilt University, em Nashville, e foi professor em outra universidade, a Rice University, no Texas.

Em 1973, emigrou para o Brasil, onde se tornou professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP).

Enquanto dava aulas, Eris foi vice-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cargo para o qual foi convidado pelo então ministro do Planejamento, Delfim Neto. Depois, saiu do serviço público para abrir uma consultoria privada.

Pouco antes das eleições de 1989, foi convidado por Zélia Cardoso de Mello, que mais tarde se tornaria ministra da Economia, Fazenda e Planejamento, para fazer parte do grupo que prepararia o programa econômico do então candidato Fernando Collor de Mello. Zélia havia sido aluna e depois colega de Eris na USP.

Na época em que aceitou fazer parte da equipe, Collor tinha em torno de 4 ou 5% das intenções de voto, segundo conta o próprio Ibrahim em entrevista disponível em livro sobre ele na coleção História contada do Banco Central do Brasil. “Respondi a ela que Collor não era meu candidato, mas que a ajudaria. Fizemos o trabalho e Collor foi eleito.”

Depois da eleição de Collor, Ibrahim Eris seguiu trabalhando com a equipe econômica comandada por Zélia, e logo se tornou presidente do Banco Central, cargo que exerceu de 15 de março de 1990 a 17 de maio de 1991.

Apesar de fazer parte de um programa econômico ultraliberal, Ibrahim considerava que, à época, tinha “inclinações esquerdistas”.

Wellington Dias diz que Bolsa Família e BPC/Loas não terão mudanças no corte de gastos feito pelo governo

Embora não tenha participado da reunião ministerial para tratar do corte de gastos do governo federal, ocorrida nesta quinta-feira (dia 7), no Palácio do Planalto, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, reforçou que as políticas gerenciadas por sua pasta não serão atingidas pelas medidas em estudo. Segundo ele, não haverá cortes no Bolsa Família nem no BPC/Loas, concedido a idosos acima de 65 anos carentes e pessoas com deficiência de baixa renda.

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Nesta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu a equipe econômica e os ministros de áreas que podem ser atingidas pelo pacote de contenção de despesas para tentar fechar as medidas.

Em uma declaração enviada à imprensa, Dias disse que o MDS vai contribuir com as contas públicas por meio de combate a fraudes e irregularidades.

“O Lula continua o mesmo, pela sua história de vida, (tem) total compromisso com os mais pobres e jamais aceitaria cortar um só benefício do Bolsa Família ou BPC ou qualquer benefício que preenche requisitos legais de uma pessoa ou família pobre!”, disse o ministro.

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Dentre as medidas estudadas pela equipe econômica, uma parte afetava o BPC/Loas, segundo interlocutores. As ideias vão desde aumentar a idade mínima e corrigir o benefício somente pela inflação até restringir o benefício para pessoas com deficiência para casos graves.

Reunião

Lula se reuniu com ministros por mais de cinco horas em duas sessões, com uma pausa para o almoço. Nesta sexta-feira (dia 8), a reunião será retomada às 14h.

Estiveram presentes ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck; o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta; o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, o ministro da Educação, Camilo Santana e a ministra da Saúde, Nísia Trindade. O vice-presidente, Geraldo Alckmin, também participou da etapa da tarde.

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Aposentadoria de servidores estaduais e municipais: veja o que pode mudar se Congresso unificar regras

Parte da discussão da Reforma da Previdência de 2019 será retomada pelo Congresso Nacional, para obrigar estados e municípios a adotarem, ao menos, as mesmas condições do regime próprio dos servidores da União. A ideia consta de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) já aprovada no Senado.

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Cinco anos após a aprovação da mudança nas regras gerais da aposentadoria, alguns estados e a maioria dos municípios com regime próprio têm critérios de acesso ao benefício mais brandos que a União, prejudicando finanças locais, segundo especialistas.

O texto da PEC 66 foi aprovado sem chamar muito a atenção no Senado Federal e está em discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Ele prevê que os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) de estados, Distrito Federal e municípios seguirão as mesmas regras da União, exceto se adotarem “regras mais rigorosas quanto ao equilíbrio financeiro e atuarial”.

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Prazo de 18 meses

O projeto dá prazo de 18 meses para que os governos regionais promovam alterações. Caso contrário, passa a valer imediatamente o ordenamento hoje vigente para os benefícios federais.

Dentre as principais mudanças realizadas pela Reforma da Previdência de 2019 para os servidores está o aumento da idade mínima para aposentadoria. Antes de 2019, os funcionários públicos do sexo masculino precisavam de 60 anos de idade e 20 anos de contribuição e do sexo feminino, 55 anos de idade e 20 anos de contribuição.

Com a reforma, a idade mínima passou para 65 anos e 62 anos, respectivamente, além de, ao menos, 25 anos de contribuição, dez anos no serviço público e cinco anos no último cargo. Mas foram criadas duas regras de transição para quem já estava na ativa.

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Crise climática é desafio e oportunidade para o turismo no Brasil

Enchentes no Rio Grande do Sul, queimadas no eixo Sudeste e Centro-Oeste e secas históricas que afetaram o país por toda a sua extensão. O Brasil experimentou ao longo deste ano uma série de fenômenos intensificados pelas mudanças climáticas, e a perspectiva de aumento na frequência desses eventos extremos colocou de vez o tema da sustentabilidade no centro dos projetos ligados ao turismo.

O contexto desafiador é visto ao mesmo tempo como oportunidade, já que os olhos do mundo estão voltados para o Brasil pela presidência deste ano do G20 — grupo dos 20 países mais ricos do mundo, que fará sua cúpula no Rio de Janeiro, no mês que vem — e por receber a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, no próximo ano.

A visão das autoridades é de que a agenda de eventos internacionais no Brasil coloca o país na liderança das discussões sobre o tema, sendo capaz de acelerar suas metas de sustentabilidade social, econômica e ambiental no turismo.

No Ministério do Turismo, a adoção do termo “ecoturismo sustentável” tem pautado uma série de ações desempenhadas pela pasta. A modalidade compreende o turismo como um instrumento para preservação da floresta e das comunidades, com base em práticas que se preocupam com o uso de energia renovável desde o transporte de turistas até o tratamento dos resíduos pela hotelaria, explicou o ministro Celso Sabino:

— A tendência global vai nessa direção e isso vai nos ajudar a trazer ainda mais turistas preocupados com a responsabilidade social e ambiental — disse ele, ao citar o Brasil como principal destino mundial para prática de ecoturismo, segundo ranking da revista Forbes.

O ministro participou na segunda-feira de live sobre o turismo, ao lado de outras autoridades do setor, em debate da série “Caminhos do Brasil”, iniciativa de O Globo e Valor Econômico e da Rádio CBN, com patrocínio do Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações.

Uma das ações recentes da pasta é o mapeamento de comunidades indígenas que desenvolvem atividades baseadas nos princípios do turismo comunitário. Até o próximo dia 31, comunidades e organizações podem preencher formulário no site do governo para facilitar a coleta dessas informações. Uma vez identificadas essas comunidades, a iniciativa vai permitir a criação e a promoção de produtos turísticos mais sustentáveis e alinhados com a cultura local.

Carta do turismo

Outro avanço importante foi a recente reunião do grupo de trabalho (GT) de Turismo do G20, realizada em Belém no mês passado, que reforçou o compromisso global com a resiliência climática e a qualificação profissional no setor. As discussões do grupo resultaram em uma carta assinada pelos membros de mais de 40 países, com propostas que serão avaliadas na cúpula do G20, programada para ocorrer no Rio entre os dias 18 e 19 de novembro.

Entre as recomendações estão a ampliação do financiamento para pequenas empresas do setor de turismo e linhas de crédito via organizações multilaterais e internacionais para quatro áreas prioritárias: resiliência climática, desenvolvimento social, criação de novos produtos turísticos em comunidades locais e desenvolvimento de infraestrutura turística compartilhada.

Anfitrião do G20 e natural do Pará, Sabino comemorou o fato de o Brasil estar no centro dos debates globais ao sediar a cúpula:

— Pela primeira vez na História vamos ter uma concentração tão grande, de um nível tão alto de tomadores de decisões globais. Vamos receber xeques, reis, ministros, presidentes, príncipes, chefes de estado. (…) Um evento como esse (COP 30) nos ajuda e muito a passar a imagem do Brasil como ele é.

A decisão do governo federal de realizar a COP30 em Belém, longe do eixo metropolitano Rio-São Paulo, corrobora para que o país assuma ainda mais protagonismo no debate da sustentabilidade, avaliou Marcelo Freixo, presidente da Embratur.

— Realizar a COP em Belém desloca o olhar para a Amazônia, que é central. Ela precisa se transformar em destino — destacou ele.

O ministro do Turismo garantiu ainda que o país está preparado para receber os visitantes que participarem da COP30 em 2025 e considerou a questão do gargalo em hospedagem como superada. Sabino destacou a criação da secretaria extraordinária vinculada à Casa Civil para coordenar ações de preparo da capital paraense para receber a conferência da ONU.

O órgão monitora obras necessárias para a promoção do evento, além de gerir contratos e articular ações de segurança, saúde, mobilidade urbana, acesso aéreo e capacidade de carga turística.

— Temos a perspectiva de aportar dois grandes navios no porto de Belém e temos áreas do governo destinadas à construção de hotéis. Um grande prédio da Receita Federal que estava abandonado no centro de Belém vai ser um hotel da Rede Tivoli. E tem outro hotel que está sendo construído no porto da cidade, do Vila Galé, além de outros grupos investindo na construção ou ampliação de leitos na cidade.

Centro de resiliência

Para o ministro, as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul serviram de alerta às autoridades brasileiras sobre a necessidade de uma resposta mais ágil a emergências climáticas. O episódio motivou, inclusive, a criação do Centro de Resiliência que será implantado no RS até dezembro.

Inspirado em boas práticas de países como a Jamaica e o Japão, o espaço servirá para articular respostas rápidas a eventos extremos. A ideia é que o gabinete auxilie não só na proteção de vidas e na recuperação de infraestruturas, mas dê suporte aos empreendedores do setor de turismo, garantindo que a retomada das atividades seja rápida e eficiente, explicou Sabino.

— Essa é a resiliência turística que vamos implantar no Brasil.

O setor privado também tem seu papel na mobilização em prol de práticas mais sustentáveis, ressaltou Ana Carolina Medeiros, presidente do conselho da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) Nacional, que vibrou com a reabertura antecipada do Salgado Filho na última segunda-feira, a tempo de promover os destinos da Serra Gaúcha, como o Natal Luz.

Segundo ela, a Abav tem trabalhado a conscientização de seus associados sobre a importância de práticas sustentáveis por meio da “Jornada 2030”, que destaca cases de sucessos ligados à temática.

— O que podemos fazer para evitar tragédias como as que aconteceram em 2024? Temos que contribuir, participar, vigiar, denunciar e nos prevenir. Não podemos repetir o que aconteceu neste ano — disse ela, ao reforçar que a iniciativa privada está engajada com o poder público para garantir a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável do turismo.

Dólar renova máxima e atinge R$ 5,70 durante pregão nesta sexta-feira (18)

Em uma semana que impactou o câmbio no Brasil, com definição sobre a volta do horário de verão e as consequências do apagão de energia na região metropolitana de São Paulo, o dólar voltou a atingir o patamar de R$ 5,70 durante o pregão desta sexta-feira (18/10) e encerrou a semana no maior valor desde o último mês de agosto, com alta de 1,51%, a R$ 5,69.

Ao mesmo tempo, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa/B3) teve alta de 0,39% nos últimos cinco dias e voltou a ficar acima dos 130 mil pontos nesta sexta-feira. Nas duas semanas anteriores, a bolsa acumulou desempenho negativo, o que ainda faz com que o índice apresente uma queda de 1% desde o início do mês de outubro.

Nesta sexta, o Ibovespa operou com volatilidade pela queda nos preços do petróleo no mercado internacional, além do minério de ferro. Também houve destaque para as tensões no Oriente Médio e o fraco desempenho do setor imobiliário chinês. As ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR4) tiveram mais um dia no vermelho, com quedas de 0,35% e 0,27%, respectivamente.

“Com o petróleo caindo internacionalmente, e as ações da Petrobras caindo e tendo maior peso no índice, também ajudou a acelerar a queda no índice, mesmo abrindo a sessão com leve alta”, avalia o especialista da Valor Investimentos Virgílio Lage, que destaca que o Ibovespa ainda sofre com os desafios em relação ao controle da dívida fiscal, por parte do governo.

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CNPJ terá letras e números a partir de julho de 2026, avisa Receita

A partir de julho de 2026, o CNPJ deve ter números e letras. A Receita Federal publicou a Instrução Normativa RFB nº 2.229, de 15 de outubro de 2024, que altera o formato do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) para o alfanumérico. Apesar da previsão para implementação, a transição será progressiva. Ainda não há detalhes do cronograma.

A mudança é por conta da crescente demanda por novos números de CNPJ e não impactará os registros já existentes. Os números atuais permanecerão válidos, e os dígitos verificadores também não serão alterados.

O novo número de identificação do CNPJ terá 14 posições. As oito primeiras identificarão a raiz do novo número, compostas por letras e números. As quatro seguintes representarão a ordem do estabelecimento, também alfanuméricas. As duas últimas posições, que correspondem aos dígitos verificadores, continuarão a ser numéricas.

Entenda

Embora a rotina de cálculo do dígito verificador (DV) seja ajustada, a fórmula de cálculo pelo módulo 11 seguirá sendo utilizada. A principal diferença será a substituição dos valores numéricos e alfanuméricos pelo valor decimal correspondente ao código constante na tabela ASCII e dele subtraído o valor 48. Assim os valores serão, por exemplo, A=17, B=18, C=19, e assim por diante.

Segundo a Receita Federal, a implementação do CNPJ alfanumérico visa garantir a continuidade das políticas públicas e assegurar a disponibilidade de números de identificação, sem causar impactos técnicos significativos para a sociedade brasileira.

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Com letras e números, CNPJ terá mudanças a partir de 2026

A Receita Federal publicou uma instrução normativa, nesta quarta-feira (16/10), que modifica o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). De acordo com a norma, o CNPJ será alfanumérico a partir de julho de 2026, o que significa que terá letras e números como parte da composição. O órgão explicou que a mudança ocorre em resposta a uma demanda crescente por novos cadastros.

Assim como na versão atual, o novo formato de identificação das empresas terá 14 posições. A diferença será que as oito primeiras representarão a raiz do cadastro, sendo composta por letras e números.

As quatro seguintes indicarão a ordem do estabelecimento, também em formato alfanumérico. Já as duas últimas – que correspondem aos dígitos verificadores – continuarão sendo formadas apenas por números.

Em nota, a Receita informou que a implementação do novo modelo tem o objetivo de “garantir a continuidade das políticas públicas e assegurar a disponibilidade de números de identificação, sem causar impactos técnicos significativos para a sociedade brasileira”.

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Ação da Embraer decola, com valorização de mais de 100% no ano

Nos últimos 12 meses, o principal índice de ações da Bolsa brasileira, o Ibovespa, se valoriza pouco mais de 12%, mas o que chama a atenção dos investidores é a alta dos papéis da fabricante brasileira de aviões Embraer, que integra o indicador. No mesmo período, eles se valorizam mais de 157% e, no ano, sobem mais de 100%, o maior ganho entre as ações que compõem o índice, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta. Mas por que as ações da Embraer engataram essa subida tão forte?

Os analistas que acompanham a empresa listam uma conjunção de fatores que estão impulsionando a companhia na B3. Entre eles, está a maior carteira de pedidos de aeronaves dos últimos sete anos. O sucesso no exterior do Embraer KC-390, avião de transporte militar multimissão, cuja produção pode dobrar até 2030, está no radar do mercado.

Além disso, a área de prestação de serviços vem crescendo e ganhando contratos — o que vai engordar a receita da companhia. E com as encomendas esgotadas até 2030 de aeronaves menores da Boeing e da Airbus, abre-se uma oportunidade para a Embraer oferecer sua linha E-Jets com capacidade para 80 a 124 passageiros.

— A Embraer se reestruturou, mudou processos e tornou-se mais eficiente operacionalmente. Expandiu centros próprios de serviços. Hoje, sua equipe de engenharia é uma das mais reconhecidas do mundo. E o KC-390 pode se tornar o principal vetor de crescimento nos próximos anos, com a empresa podendo dobrar ou triplicar de tamanho — diz Lucas Esteves, analista de transportes e bens de capital do banco Santander.

Na linha de produção do KC-390, visitada pelo GLOBO na cidade de Gavião Peixoto, interior de São Paulo, bandeiras indicam os países que já compraram a aeronave. Estão lá Portugal, Hungria, Coreia do Sul, além da bandeira brasileira, já que a Força Aérea Brasileira (FAB) já tem sete aeronaves, mas a encomenda total é de 19. A Holanda e a República Tcheca também já fizeram encomendas.

Negociações em curso

O valor de cada unidade depende do total de aeronaves compradas por cada país e da configuração, mas pode ficar entre R$ 650 milhões e R$ 900 milhões. A capacidade de produção em 2025 será de seis aeronaves por ano. Mas até 2030, a meta é entregar 12 anualmente, disse a jornalistas Walter Pinto Júnior, chefe de operações da divisão de Defesa. Mas o total pode chegar a 18 por ano, com mais mão de obra.

Atualmente, a área de defesa da Embraer, integrada também pelo Super Tucano, deve representar 12% da receita este ano (foi 10% no ano passado). Mas os analistas apontam que o KC-390 pode fazer a Embraer dar um salto de produção — e faturamento.

A aeronave, que faz tarefas como transporte de carga ou soldados, abastecimento de aeronaves em voo, combate a incêndios florestais, vem despertando o interesse de vários países como Áustria, Suécia, Marrocos, Uzbequistão e México. Até os Estados Unidos têm interesse na aeronave, segundo analistas. O KC-390 foi desenvolvido pela Embraer para substituir o americano C-130 Hércules, que começou a ser fabricado em 1954.

Lucas Esteves, do Santander, observa que negociações da Embraer com a Arábia Saudita (que pode comprar até 33 unidades) e Índia (que deve ficar com algo entre 40 e 80 unidades) deverão exigir expansão fabril por aqui. Mas há chance também de que a aeronave seja montada nos dois países. A aposta do mercado é que isso aconteça na Arábia Saudita, mas a Embraer anunciou este ano memorando de entendimentos com a Mahindra, empresa indiana de defesa, para a venda do avião.

Procurada, a Embraer informou que há 40 unidades do KC-390 encomendadas e dez já foram entregues. Entre os países que fizeram a encomenda estão Brasil (através da FAB), com 19 unidades previstas e sete entregues; Portugal (cinco unidades e duas entregues); Hungria (duas unidades, uma entregue), Holanda (cinco), Áustria (quatro), Coreia do Sul (três) e República Tcheca (duas).

A companhia informou que não comenta especulações de mercado sobre novas compras, mas “está confiante de que o C-390 Millennium é um produto superior para atender aos requisitos das Forças Armadas em todo o mundo”, disse em nota.

Fabio Oiko, especialista em renda variável da Ável Investimentos, destaca que a Embraer leva vantagem sobre suas concorrentes como Boeing e Airbus, neste momento, porque tem mais agilidade para entregar seus aviões. Ele destaca que a oferta de serviços de manutenção tem crescido, especialmente com a portuguesa Ogma, da qual a Embraer detém 65% do capital, sendo os 35% restantes do governo português.

Há um novo centro de manutenção no Texas, EUA, que vai aumentar o suporte à frota de E-Jets da Embraer nos EUA.

Em Portugal, foi inaugurado recentemente um centro de manutenção para motores Pratt & Whitney, com expectativa de gerar receitas adicionais de € 600 milhões por ano quando estiver operando em sua total capacidade. A Pratt & Whitney enfrenta, desde o ano passado, um raro defeito em seus motores que afeta principalmente o jato Airbus A320neo.

A procura por manutenção de aeronaves está aquecida, especialmente depois da quebra da cadeia de suprimentos na pandemia.

— Com esse novo contrato, em Portugal, existe a previsão de um faturamento de € 3 bilhões até 2030. A capilaridade da receita da Embraer anima os investidores — diz Oiko.

Thiago Tavares, analista da Lumi Research, lembra que a Embraer já ajustou projeções de faturamento, prevendo alta de 8% a 15% na receita consolidada entre 2024 e 2025. O C-390, diz Tavares, pode chegar a mais de 30% da receita de defesa nos próximos anos.

TCU cobra eficiência da ANM na fiscalização de receitas do setor mineral

O Tribunal de Contas da União (TCU) pressiona a Agência Nacional de Mineração (ANM) para melhorar a fiscalização e arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) e da Taxa Anual por Hectare (TAH). A auditoria realizada pelo TCU identificou falhas significativas no período de 2017 a 2021, que incluem inadimplência, subarrecadação e falta de planejamento adequado.

O relatório revela que apenas 30,3% dos processos minerários ativos pagaram a Cfem espontaneamente, com os demais apresentando algum nível de sonegação. A ANM enfrenta ainda desafios estruturais, como déficit de pessoal e sistemas de tecnologia da informação defasados, que comprometem a arrecadação. Estima-se que entre 2014 e 2021 a receita poderia ter sido de 30,5% a 40,2% maior se a fiscalização fosse mais eficaz.

O TCU determinou que a ANM, em até 180 dias, implemente monitoramento contínuo da arrecadação e melhore seus processos de fiscalização. O tribunal também destacou a necessidade de maior integração da ANM com a Receita Federal e outras secretarias estaduais para combater a evasão.

A falta de estrutura adequada já causou a perda de R$ 4 bilhões em créditos prescritos ou decaídos e coloca em risco outros R$ 20 bilhões em créditos pendentes. Além disso, a ANM vem sofrendo cortes orçamentários que dificultam sua atuação, recebendo apenas 56,2% da receita prevista para 2023.

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