Nos últimos 12 meses, o principal índice de ações da Bolsa brasileira, o Ibovespa, se valoriza pouco mais de 12%, mas o que chama a atenção dos investidores é a alta dos papéis da fabricante brasileira de aviões Embraer, que integra o indicador. No mesmo período, eles se valorizam mais de 157% e, no ano, sobem mais de 100%, o maior ganho entre as ações que compõem o índice, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta. Mas por que as ações da Embraer engataram essa subida tão forte?

Os analistas que acompanham a empresa listam uma conjunção de fatores que estão impulsionando a companhia na B3. Entre eles, está a maior carteira de pedidos de aeronaves dos últimos sete anos. O sucesso no exterior do Embraer KC-390, avião de transporte militar multimissão, cuja produção pode dobrar até 2030, está no radar do mercado.

Além disso, a área de prestação de serviços vem crescendo e ganhando contratos — o que vai engordar a receita da companhia. E com as encomendas esgotadas até 2030 de aeronaves menores da Boeing e da Airbus, abre-se uma oportunidade para a Embraer oferecer sua linha E-Jets com capacidade para 80 a 124 passageiros.

— A Embraer se reestruturou, mudou processos e tornou-se mais eficiente operacionalmente. Expandiu centros próprios de serviços. Hoje, sua equipe de engenharia é uma das mais reconhecidas do mundo. E o KC-390 pode se tornar o principal vetor de crescimento nos próximos anos, com a empresa podendo dobrar ou triplicar de tamanho — diz Lucas Esteves, analista de transportes e bens de capital do banco Santander.

Na linha de produção do KC-390, visitada pelo GLOBO na cidade de Gavião Peixoto, interior de São Paulo, bandeiras indicam os países que já compraram a aeronave. Estão lá Portugal, Hungria, Coreia do Sul, além da bandeira brasileira, já que a Força Aérea Brasileira (FAB) já tem sete aeronaves, mas a encomenda total é de 19. A Holanda e a República Tcheca também já fizeram encomendas.

Negociações em curso

O valor de cada unidade depende do total de aeronaves compradas por cada país e da configuração, mas pode ficar entre R$ 650 milhões e R$ 900 milhões. A capacidade de produção em 2025 será de seis aeronaves por ano. Mas até 2030, a meta é entregar 12 anualmente, disse a jornalistas Walter Pinto Júnior, chefe de operações da divisão de Defesa. Mas o total pode chegar a 18 por ano, com mais mão de obra.

Atualmente, a área de defesa da Embraer, integrada também pelo Super Tucano, deve representar 12% da receita este ano (foi 10% no ano passado). Mas os analistas apontam que o KC-390 pode fazer a Embraer dar um salto de produção — e faturamento.

A aeronave, que faz tarefas como transporte de carga ou soldados, abastecimento de aeronaves em voo, combate a incêndios florestais, vem despertando o interesse de vários países como Áustria, Suécia, Marrocos, Uzbequistão e México. Até os Estados Unidos têm interesse na aeronave, segundo analistas. O KC-390 foi desenvolvido pela Embraer para substituir o americano C-130 Hércules, que começou a ser fabricado em 1954.

Lucas Esteves, do Santander, observa que negociações da Embraer com a Arábia Saudita (que pode comprar até 33 unidades) e Índia (que deve ficar com algo entre 40 e 80 unidades) deverão exigir expansão fabril por aqui. Mas há chance também de que a aeronave seja montada nos dois países. A aposta do mercado é que isso aconteça na Arábia Saudita, mas a Embraer anunciou este ano memorando de entendimentos com a Mahindra, empresa indiana de defesa, para a venda do avião.

Procurada, a Embraer informou que há 40 unidades do KC-390 encomendadas e dez já foram entregues. Entre os países que fizeram a encomenda estão Brasil (através da FAB), com 19 unidades previstas e sete entregues; Portugal (cinco unidades e duas entregues); Hungria (duas unidades, uma entregue), Holanda (cinco), Áustria (quatro), Coreia do Sul (três) e República Tcheca (duas).

A companhia informou que não comenta especulações de mercado sobre novas compras, mas “está confiante de que o C-390 Millennium é um produto superior para atender aos requisitos das Forças Armadas em todo o mundo”, disse em nota.

Fabio Oiko, especialista em renda variável da Ável Investimentos, destaca que a Embraer leva vantagem sobre suas concorrentes como Boeing e Airbus, neste momento, porque tem mais agilidade para entregar seus aviões. Ele destaca que a oferta de serviços de manutenção tem crescido, especialmente com a portuguesa Ogma, da qual a Embraer detém 65% do capital, sendo os 35% restantes do governo português.

Há um novo centro de manutenção no Texas, EUA, que vai aumentar o suporte à frota de E-Jets da Embraer nos EUA.

Em Portugal, foi inaugurado recentemente um centro de manutenção para motores Pratt & Whitney, com expectativa de gerar receitas adicionais de € 600 milhões por ano quando estiver operando em sua total capacidade. A Pratt & Whitney enfrenta, desde o ano passado, um raro defeito em seus motores que afeta principalmente o jato Airbus A320neo.

A procura por manutenção de aeronaves está aquecida, especialmente depois da quebra da cadeia de suprimentos na pandemia.

— Com esse novo contrato, em Portugal, existe a previsão de um faturamento de € 3 bilhões até 2030. A capilaridade da receita da Embraer anima os investidores — diz Oiko.

Thiago Tavares, analista da Lumi Research, lembra que a Embraer já ajustou projeções de faturamento, prevendo alta de 8% a 15% na receita consolidada entre 2024 e 2025. O C-390, diz Tavares, pode chegar a mais de 30% da receita de defesa nos próximos anos.

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